Despedida
Fiquei contente quando te vi esta manhã pensando que bom ela já cá está. Mal sabia que te estavas a despedir da praia… pensei que iria ser um dia como os anteriores. Que iria ter a graça da tua presença durante mais uns tempos. O privilégio da tua beleza. A dádiva da tua graciosidade.
Quando regressei à praia, ainda de manhã, e vi a tua palhota abandonada, ocupada somente pelo vazio, animada apenas pelo movimento ondulante das suas franjas, no íntimo percebi que por ali só restava o vento, também ele deambulando saudosamente…
Ainda quis enganar-me a mim mesmo, tentando convencer-me de que tinhas mudado de lugar, como fazem tantos outros. Mas, à tarde, tive a certeza de que tinhas partido. O mar já não brilhava, as ondas já não sorriam, a praia estava vazia. E eu estava ali, sozinho, numa praia cheia de areia e de pessoas.
Bem me pareceu estranho o teu olhar esta manhã. Demorou um pouco sobre mim, mas não dei importância. Agora que partiste, pergunto-me se terá tido alguma. Estarias tu a despedir-te também de mim? Terás reparado alguma vez em mim? Eu que só te observava pelo canto do olho, ou por detrás dos óculos escuros. Terás adivinhado que, enquanto descias com alegria e beleza em direção ao mar, me estavas a encantar mais do que o mais bonito pôr-do-sol? Deixei transparecer o quão me fascinavas?
És tão bonita!
Decerto não foram os meus olhos que me traíram. Talvez tenhas sintonizado os meus pensamentos, e eu sem nunca o perceber. Agora já partiste. E eu não me pude despedir de ti…