Se soubesse que o mundoamanhã ia acabar, não perderia um segundo para te ir procurar! Não iria eu morrer,meu amor, sem te achar. Sem ao Céu poder volver, antes da porta fechar. Mas amanhã será um dia como outro dia qualquer. Trilharei a mesma via sem tentar sair sequer. Como o mundo irás seguir na tua própria translação, continuando eu a fingir que me queres no coração.
Vem comigo passear. Passo por aí a
buscar-te no meu cavalo castanho.
Sobes para a garupa e agarras-te bem
a mim para não caíres.
Vamos por montes e vales com os
teus cabelos ao vento.
Vamos até ao mar e, de mãos dadas,
olhar o oceano e imaginar que do
outro lado há um lugar que é só nosso.
Anda comigo. Talvez te faça rir e as tuas
gargalhadas me façam doer o coração
de tanto o encherem de felicidade.
Anda. Faço te uma maldade só para vires
a correr atrás de mim e eu poder demorar
um pouco até me deixar apanhar,
muito antes de ficares furiosa.
Deixa-me correr atrás de ti, com o teu
vestido leve a esvoaçar, rindo-te da
vingança que perpetraste.
Vem comigo. Depois, ofegantes, deitamo-
-nos no chão a olhar para o céu para
vermos passar as nuvens e esperar que a
noite chegue.
Fica comigo até se verem as estrelas, para
vermos os cometas a atravessar o céu e o
meu cavalo castanho connosco em cima.
Anda passear comigo. Entra comigo neste
sonho e vamos sonhar que estamos acordados.
sempre que vou pela rua ando a ver se te vejo cuidando também ser tua a vontade de um beijo
sentires amor por mim é com o que vou sonhando e é por achar que sim que a ver se te vejo ando
mesmo quando acho que não continuo a querer ver-te não me sais do coração não consigo esquecer-te
se me disseres vagamente que não te inspiro desejo então irei prontamente deixar de ver se te vejo
mas se eu for do teu agrado nesse caso nada digas ver-te-ei sempre a meu lado por onde quer que sigas
Não quero mais fingir que nada estou a sentir
Não quero mais calar o que te devia ocultar
Queria estar contigo e não fazer ninguém sofrer
Queria não sofrer quando não te posso ver
Queria ficar preso sempre no teu lindo olhar
Queria te abraçar e a tua alma aconchegar
Queria que pudesses estender-me a tua mão
Queria que me amasses do fundo do coração
Queria ter a virtude de te saber esperar
Mesmo que a meu lado nunca venhas a ficar
Queria poder estar à morte
para o meu amor te dizer
Virias ver-me com sorte
e que bom seria morrer
(para a M. S.)
Amei muito uma mulher,
que me causava grande dor.
Até que um dia, sem querer,
se evaporou o meu amor.
Hoje não tenho ninguém
que me cause aquela dor,
mas a dor que daí vem
é pior que a anterior.
Este mundo é um jardim
onde há muita flor bonita.
Gosto muito do jasmim,
da orquídea e da tulipa.
E nem sei lá muito bem
de qual delas gosto mais.
Mas não ferem ninguém
as preferências naturais.
No que respeita a gente,
não foi assim que se fez.
Decretou-se sabiamente
uma amar de cada vez.
Acontece que o amor,
é como a erva daninha:
irrompe com seu vigor
onde menos se adivinha.
E se brota outra flor
que encanta o meu ser,
o que me causa mais dor
é não a poder colher.
Nunca vi o teu rosto, nem tão-pouco quero vê-lo. Do que o havia suposto não vá ele ser mais belo. Se não o vendo me é penoso refrear minha paixão, se se revelar formoso, vai ser mortificação. Pode ser que seja feio, com a boca retorcida, dentes tortos de permeio e com lábios em ferida. Se for desta natureza, talvez possa ofuscar tua restante beleza e eu suporte te amar.
Será que um dia vou poder abraçar-te?
Será que alguma vez pegarei nas tuas mãos e as beijarei?
Sentirei algum dia, nas costas dos meus dedos, a suavidade da pele do teu rosto?
Se te sentires sozinha
podes vir ter comigo.
Sentamo-nos na cozinha.
Faço dela teu abrigo.
Ponho água a aquecer
para fazer uma infusão.
Se quiseres podes dizer
o que te moi o coração.
Enquanto não ferver,
se quiseres, podes chorar.
Isso basta para entender.
Não precisas de falar.
Quando voltar do fogão
ponho na mesa a chaleira,
faço a preparação
e sento-me à tua beira.
E melhor do que contar
podes somente a cabeça
no meu ombro encostar
até que o mal desapareça.
Então, como a uma criança,
te aperto contra o meu peito
abandonando a lembrança
de que o chá já está feito.
Gosto de falar contigo. De ouvir as notas alegres que entoa a tua voz. E quando isso acontece, és como a flor que aparece no ramo nu da amendoeira. Ou como a cotovia, que contente pousa nele, encantando com o seu canto e largando logo a seguir, sem que o possa impedir. Quando a tua voz se cala, guardo no meu coração a sua reverberação até que voltes a surgir.
Penso que tu pensas que eu penso de ti aquilo que pensei que pensaste de mim. Acontece que eu não penso nada disso. E já percebi que também tu não é isso que pensas.
O melhor é não pensarmos muito porque, se o fizermos, corremos o risco de pensar do outro coisas que, se não pensássemos, seria muito melhor. Não achas?
São fortes, mas suaves os teus cabelos. Sedosos, soltos, da cor do ébano. Cor do mel aqui e ali, onde o sol lhes deu um beijo. São algas que dançam suavemente ou em grande turbilhão e que tornam tão bela a parte de dentro do mar. São as labaredas de um fogo onde podemos aquecer a nossa alma. São a moldura de um quadro pintado por Deus, talvez numa tarde de primavera junto ao mar. São a parte do tesouro que transborda por não caber todo dentro de ti. São as flores que me oferece uma amiga que tive a sorte de conhecer.
Sei que naquele lugar ela vai aparecer. Inquieto fico a aguardar, procurando disfarçar o quanto a quero ver. Ela chega entretanto e eu dou graças a Deus. Mas percebo neste quanto que a razão do seu encanto está nos traços que são teus.