Quem me dera simplesmente esquecê-la
Não estou a conseguir esquecê-la. Ou melhor, não estou a conseguir querer esquecê-la. Nas minhas esporádicas orações, quando estou para pedir ajuda para a esquecer, vacilo. Receio que o meu pedido seja atendido e, no íntimo, quero é pedir para que ela goste de mim... Não estou mesmo a conseguir querer abrir mão dela. Não me convenço de que nunca sentiu nada por mim. E convenço-me de que ainda sente... agarro-me às expressões que percebi no seu rosto, aos brilhos que encontrei nos seus olhares, à ansiedade que vi nos seus gestos... Nada disto foi adivinhado por mim. Não foi delírio nem imaginação minha. Tenho a certeza de que foi real. O meu erro deve estar em não aceitar que os sentimentos mudam. Que por vezes não são certos e que percorrem caminhos erráticos. E isto pode e deve ter acontecido com ela.
Não acredito no seu amor pelo seu homem. Nunca acreditei. Mas é o homem que escolheu. É o que lhe pode dar conforto, lhe pode dar a mão. A pode amar. Eu não posso. Então o mais lógico seria centrar-me naquilo que tenho. Seria, nos meus momentos de recolhimento, deixar de pensar nela. Passar definitivamente uma esponja sobre ela. Só que, quando vejo o seu rosto, fotografado no meu cérebro como se estivesse à minha frente, como o vi na semana passada, ou na outra, e que fica gravado com tanta nitidez, dou-me por vencido. Porque as emoções que tenho quando a vejo, ávido por detectar o mais pequeno sinal seu, são difíceis de conter em mim. Sinto-me virar-me do avesso. Sinto o meu coração desinquietar-se. A respiração suspender-se. O peito ficar a doer-me. O tempo a alongar-se. O espaço a enevoar-se, deixando visível apenas ela. E vê-la é a mais maravilhosa experiência que se pode ter. E não quero deitar fora estes sentimentos...
Como é difícil um rico entrar no reino dos Céus... Como foi difícil para Judas abdicar dos trinta dinheiros. Não foi capaz. A minha riqueza é ela. Por causa do que me faz sentir. E não estou a querer sair deste inferno... Se verdadeiramente a amo tenho de desistir dela. Deixá-la ser feliz com a sua família. E colocar o meu futuro nas mãos de Deus. Ser perseverante. Confiar que Ele me deu o que é melhor para mim. E que, se houver algo melhor, a seu tempo Ele mo dará. Aceitando com humildade que pode não ser aquilo que agora quero. Parece ser tão fácil quando se pensa nisto desta forma tão racional... Quem me dera esquecê-la… naturalmente, sem custo. Simplesmente deixar de a desejar... amo-a tanto, porra!