Para a Liliana
Olá Liliana,
Hoje, como ansiava desde a última vez que cá vim, tive a sorte de te reencontrar. Acabei por te ver no elevador sem que nada tivesse feito para tal. Mera coincidência. Ou talvez não. Talvez tenha sido mais um golpe do destino. A verdade é que há um ano que esperava por este momento. Momento que já sabia que ia acontecer, não me perguntes como.
A primeira coisa que fiz quando te vi foi perscrutar o teu olhar. Ver se descobria nos teus olhos o mínimo sinal de que também desejavam os meus. Perceber se irias matar a saudade como eu estava a matar as que tinha de ti. Olhei-te com muita atenção, na ânsia de que os teus olhos brilhassem quando me visses.
Foi com tristeza que percebi que nem sequer reparaste em mim. Nem um cruzamento psicadélico do teu olhar. Aqueles milésimos de segundo que seriam suficientes para perceber que havia entre nós certa cumplicidade. Ainda pensei que pudesses estar a fingir que não te lembravas de mim, mas, pelo que observei no elevador, estavas a ser muito natural. Nada em ti denotou a mais leve dissimulação, ansiedade, o mais leve nervosismo ou timidez. Nem por um instante me pareceu que estavas a evitar o meu olhar. Ter-me-ia apercebido disso. Não. Merecerias um óscar se estivesses a representar. Não me resta senão admitir que para ti sou como qualquer outro. Aquilo que pensei sentires por mim, há um ano, tinha sido mera imaginação minha. Tinha sido eu a colocar em ti pensamentos que não eram teus.
Percebes agora que gosto de ti Liliana. Gosto muito da tua beleza. Da beleza que irradias. Que a tua alma tem. Aquela beleza que não se apaga com o tempo. Aquela que sei que terás mesmo quando fores velhinha. A beleza que terás mesmo quando já cá não estiveres. Aquela que é a tua beleza. Não aquela outra, que também tens em abundância. E de que também gosto muito. Essa irá desvanecer-se com o tempo, mas a primeira durará para sempre.
Quando te vi no elevador estavas muito bonita. Muito atraente. Nunca te tinha visto assim vestida. Com aquelas sandálias tão altas que mostravam como são bonitos os teus pés e te tornavam tão elegante. E as calças justas que trazias que tão bem mostravam a beleza das tuas curvas. Mas senti algo estranho ao ver-te assim. Achei esta tua beleza diferente da outra, que conhecia em ti. Não digo que a outra não estava lá, estava. Mas era como se esta nova beleza fosse uma campânula de vidro fosco que encobria a tua outra beleza. A mais bela que tens. Eu vi a tua beleza mais bela porque já a conhecia. No entanto, quem te visse pela primeira vez não a iria reconhecer. Percebes o que te quero dizer? Fiquei a pensar no que procurarias tu. Quem procurarias tu. E fiquei triste ao imaginar vires a ficar com alguém que só conhece a tua beleza e não a tua bela beleza.
Miguel