O tempo dos pensamentos
A nossa mente tem capacidades impressionantes. Espanto-me comigo mesmo com a quantidade de pensamentos que por vezes me ocorrem num espaço de tempo tão curto. Já me aconteceu em situações de emergência, como por exemplo num acidente, ou quase acidente, em que parece que vemos as coisas a desenrolarem-se em câmara lenta, dando-nos tempo para decidir o que havemos de fazer para evitar o desastre. Mas o tipo de situação que me leva a escrever é outro. É uma situação que já me ocorreu por diversas vezes, e que estou certo de que acontece com a maior parte de nós, e que me aconteceu hoje novamente:
Ao dobrar uma esquina deparei-me subitamente com uma jovem mulher que vinha na minha direção. Os nossos olhares encontraram-se num instante, mas, no seguinte, já eu e ela estávamos de costas voltadas, cada um a prosseguir com as suas vidas. Contudo, neste período de tempo, foi possível fazer o seguinte: observar a rapariga; fazer uma primeira avaliação com base nos traços fisionómicos, na postura, nos gestos e na atitude; formular uma opinião que, neste caso, foi muito positiva; expressar inadvertidamente, ainda que de forma algo discreta, uma certa estupefação e um certo agrado; perceber que ela percebeu; tentar disfarçar; ficar na dúvida relativamente à avaliação que fez de mim mas notar que não ficou indiferente e ficar chateado porque o momento acabou. Tudo isto num intervalo de aproximadamente um milissegundo. É ou não é extraordinário?