O sonho
Hoje tive um sonho que acabou por me dar uma boa lição. Eu e outros colegas, ou amigos, não consigo precisar, fomos presenteados com um fim-de-semana numa quinta recheada de mulheres. Transbordávamos de alegria! Eram relativamente bonitas e, mais interessante do que isso, mas um pouco constrangedor, sabidas. Eram em maior número do que nós, o que elevava a probabilidade de se ser bem sucedido. No entanto, a insegurança que sentia, medo, acabrunhamento, sensação de não ser atraente, emprestou-me uma atitude que talvez tenha sido a responsável por ter sido o último a ser escolhido por elas. Em vez de me ter lançado na corrida para procurar a que mais me agradava e consegui-la, tomei logo uma posição de desistência, acabando por fazer como faço nos bufetes dos casamentos que é deixar seguir a maralha apressada primeiro e ir depois, tranquilamente, escolher entre o que sobra, estratégia esta que, qual necrófago, até se tem revelado bastante satisfatória, pelo menos no que a bufetes diz respeito... Como a quantidade de mulheres era grande, ainda assim o que sobrou não foi mau. O pior foi perceber o desapontamento por parte delas. Para estas eu era o refugo dos refugos, ficando desapontadas com o que lhes tinha calhado na rifa. O que viria a acontecer depois seria para elas apenas o cumprimento de uma obrigação, o que era a última coisa que eu queria. O sonho estava a assumir gradualmente contornos de pesadelo, mas, por sorte, tive a felicidade de acordar.
Voltei a adormecer logo de seguida e regressei ao dito fim-de-semana. Agora a minha mente estava a defender-se e tentava encontrar alguma dignidade na situação. Então, surgiram mulheres que rejeitaram os outros por não se sentirem amadas por eles. Por se sentirem apenas objetos de prazer. E a minha confiança começou a aumentar por sentir que nesse campo tinha muito para dar. Pouco depois comecei a colher os frutos desta nova realidade e dei por mim já amando uma delas e sendo objeto do seu amor. Ela era muito bonita e em pouco tempo eu estava a beijar os seus lábios carnudos ao mesmo tempo que uma das minhas mãos deslizava docemente sob a blusa, deleitando-me com o tato suave das suas proeminências. Seria mesmo amor o que lhes queira dar? Como pode um homem ser tão sonso mesmo quando está a sonhar… Mais tarde, já me encontrava de pé com outras duas mulheres de sonho, na verdadeira aceção da palavra, com as minhas mãos fazendo ainda maiores progressos, agora mais afoitas, introduzindo-se na abertura das costas dos seus vestidos, roçando a pele macia de uma e de outra, descendo vales e montanhas firmes e sedosos até tocar as pétalas sensíveis dos botões, que se abriam, prestes a oferecer a tão almejada explosão de sentidos. O pesadelo estava a dar lugar a um dos mais agradáveis sonhos que já tive, mas, neste momento, cruel e friamente, tive a infelicidade de acordar.