A enfermeira simpática
Entrei no hospital de manhã cedo para ser operado ao ouvido. Estava um pouco nervoso pois nestas alturas sou sempre assaltado por um certo medo de morrer. Encaminharam-me para um quarto onde substituiria a minha roupa por uma bata, para logo depois me deitar numa cama de hospital com rodas. Já deitado, fui conduzido através dos corredores até ao bloco operatório. Ia observando as portas de mola a abrir de par em par, as luminárias a desfilarem no teto e os rostos dos auxiliares que empurravam esta minha viatura. Já lá vão cerca de dez anos.
Quando me estacionaram junto ao bloco operatório fui visitado por uma enfermeira muito simpática e não menos bonita. Quis saber se eu estava bem antes de se dar início à cirurgia. Tentava perceber o que me dizia complementando o som do que proferia com os movimentos dos seus lábios, ao mesmo tempo que fixava os seus lindos olhos verdes. Fez-me as maldades que todos os enfermeiros fazem nestas ocasiões, mas souberam-me como carícias. Sentia-me calmo agora e com uma alegria muito grande por estar na sua presença. Estava simpático e confiante, por sentir que ela estava igualmente a saborear aquele momento. Não percebi o que me disse ao desejar-me boa sorte e pedi-lhe que repetisse. Rematei dizendo-lhe, ironicamente, que a audição não era o meu forte ao que simplesmente respondeu com um sorriso genuíno, que se estendia até aos seus olhos, como se me estivesse a dizer que isso iria deixar de acontecer. Afastou-se de seguida e só desejei que a cirurgia terminasse depressa para poder voltar a vê-la.
Isso não veio a acontecer. Nem o seu nome cheguei sequer a saber. E já nem dos traços do seu rosto me recordo muito bem. Mas jamais esquecerei esta linda enfermeira.